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A história do Fusca é longa, começando na Alemanha de antes da Segunda Guerra Mundial, mas ninguém imaginava que ele se tornaria um clássico atemporal.

O design clássico arredondado e o motor boxer são velhos conhecidos do mercado automotivo brasileiro. Aliás, o dia nacional do Fusca é comemorado dia 20 de janeiro, tamanha é a relação do modelo com a história automotiva do nosso País.

E por falar em história, a do Fusca é longa e o carro rodou o mundo com inúmeros nomes. Os alemães chamam de Käfer, os norte-americanos de Beetle e os portugueses de Carocha.

É o modelo único mais produzido da história e conta com seus mais de 60 anos de produção marcados por 21 milhões de unidades. O modelo “teve filhos”, veículos que foram derivados da tecnologia do velho besouro. Entre eles, conhecidos dos consumidores tupiniquins, como Karmann Ghia, Variant e Kombi. No entanto, isso também inclui “crias” de outras marcas do Grupo Volkswagen, como os carros da linha Porsche.

O clássico da Volkswagen tem tantos adeptos que os chineses criaram sua própria versão: o GWM Ballet Cat, um veículo elétrico com o design bastante inspirado no Fusca.

O carro do povo

A origem do Fusca é um tanto controversa. O projeto começou a ganhar vida ainda nos anos 1930. O governo alemão estava focado em levar a Alemanha um nível de modernidade compatível com as grandes potências mundiais. Por exemplo, com a introdução de tecnologias como o rádio - chamado de “Receptor do Povo”, ou “Volksempgänger”. Nesse, era impossível sintonizar rádios estrangeiras.

A mesma lógica se aplicou à geladeira, chamada de “Refrigerador do Povo”, ou “Volkskühlschrank”. Assim, o governo alemão lançava várias tecnologias rebatizando com um nome que fazia sentido para manter sua política. O Carro do Povo (Volkswagen, o nome original do Fusca que também batizou a marca alemã) surgiu originalmente com esse pretexto.

O país contava com uma sociedade pouco motorizada e com veículos acessíveis apenas à burguesia alemã. Por isso, o governo encomendou o projeto ao projetista Ferdinand Porsche. A ideia era criar um carro acessível, barato, que cumprisse algumas exigências curiosas, a exemplo, a capacidade de levar uma metralhadora montada no capô.

A interrupção da produção do Fusca

Para a construção do projeto, Porsche garantiu o respaldo do governo alemão para a criação de uma fábrica moderna. A ideia era diminuir os custos de produção e o governo fundou a cidade que futuramente se chamaria Wolfsburg para esse propósito, servindo como espaço para acomodar os operários. Nessa cidade foi criada a primeira fábrica da Volkswagen e até hoje é onde fica sua sede.

Ainda assim, o “Carro do Povo” teve dificuldade para atingir seu propósito. Isso porque a sociedade alemã era adepta da bicicleta e o automóvel era visto apenas como um lazer reservado à classe média e aos ricos. As primeiras unidades foram, em sua maioria, para as autoridades do governo alemão.

Porém, os esforços de guerra alemães logo interromperam a produção e o Fusca tradicional foi substituído por uma versão militarizada. Similar ao jipe, o novo carro tinha o nome de “Kübelwagen”, ou “carro caixote”. No fim da guerra, a maioria do maquinário da Volkswagen estava intacto e, a partir dele, a empresa alemã foi reconstruída.

A história do Fusca no Brasil

Foi em um regime democrático que o Fusca deu as caras por aqui. Juscelino Kubitschek foi eleito presidente nos anos 1950 e assumiu na esteira do chamado “nacional-desenvolvimentismo” e do ambicioso plano de crescer “50 anos em 5”, incentivando a produção de automóveis com capital privado - normalmente, de origem estrangeira. Assim, as multinacionais se concentraram na região do ABC paulista.

Em 1959, a Volkswagen lançou o primeiro Fusca com montagem no Brasil. JK aproveitou a fama de pai da indústria automobilística brasileira e desfilou a bordo do carro. A concorrência também viria de uma marca europeia, a francesa Simca - que lançaria a linha de luxo Chambord na mesma época.

Assim, o clássico da multinacional alemã foi evoluindo ao longo dos anos e se tornou um dos carros mais vendidos do Brasil. Nos anos 1970, por exemplo, ganhou cinto de segurança e começou a passar por testes de impacto. A produção foi interrompida nos anos 1980, já que o carro era considerado obsoleto e a linha de montagem da filial de São Bernardo do Campo precisava ser atualizada.

A despedida do Fusca no Brasil

Essa ainda não foi a despedida do Fusca. Nos anos 1990, o então presidente Itamar Franco fez uma parceria com a Volkswagen para a empresa voltar a produzir o carro. Assim, o pedido foi polêmico, já que não considerava o avanço da indústria.

Esse ficou conhecido popularmente como “Fusca Itamar”. O clássico ainda passou por atualizações tecnológicas, simbolizadas pelo New Beetle e pelo Fusca A5. A evolução tecnológica foi representativa: o modesto motor experimental do projeto original de Ferdinand Porsche é bem diferente da poderosa engenharia de 211 cv que mais de 60 anos depois foi entregue ao “novo Fusca”.

No entanto, apesar das tentativas de adaptar o veículo aos dias de hoje, o clássico da multinacional alemã precisou dar “tchau” e a história do Fusca chegou ao fim. Isso aconteceu em 2019, com o último modelo sendo vendido aqui mesmo no Brasil. O “Final Edition” foi produzido no México e adquirido por um colecionador.

O legado do Fusca

Apesar da origem controversa, o Fusca se tornou exatamente o oposto do que o governo alemão representava, sendo um sucesso comercial em países democráticos e que respeitam os Direitos Humanos. Diante disso, teve um papel importante para o acesso ao mundo automotivo em economias emergentes e para a democratização do acesso à mobilidade por quatro rodas.

A própria Alemanha é um exemplo, estando hoje entre os 15 países mais democráticos do mundo e tendo a chanceler que ocupou o cargo na maior parte do século XXI apontada como a líder do mundo livre. O Grupo Volks ainda é um dos pilares da economia alemã, com um em cada três carros do país sendo da marca.

A Volkswagen também é uma marca de prestígio no Brasil e está por aqui há mais de 60 anos. Assim, a história do Fusca tem seus altos e baixos e dá algumas pistas do porquê o carro é tão querido por aqui.


Fonte: www.instacarro.com