Um relatório divulgado em fevereiro de 2022 mostra que eventos climáticos extremos ligados às mudanças climáticas – como enchentes e ondas de calor – estão atingindo seres humanos de forma muito mais dura do que avaliações anteriores indicavam. Alguns impactos desse desequilíbrio climático já podem ser notados no Brasil.
A região Sudeste e parte do Nordeste sofrem com chuvas intensas, que deixam mortos e desabrigados. No Sul, secas históricas causam desabastecimento de água em centenas de municípios. No Norte, a bacia amazônica tem enchentes históricas e o processo de savanização da floresta pode aumentar as temperaturas a níveis fatais.
Fora o custo humano que o aquecimento global cobra, as alterações no clima também atingem setores econômicos importantes para o desenvolvimento do país. A crise hídrica de 2021, por exemplo, afetou diretamente a geração de energia pela falta de água nos rios que abastecem as principais hidrelétricas do sistema elétrico nacional.
Além disso, eventos climáticos extremos prolongados afetaram as lavouras, o que fez disparar o preço de alimentos como o café e a laranja – dois dos principais produtos de exportação brasileiros.
Padrão de chuvas no Brasil está mudando
Vários estudos têm observado o aumento da frequência de extremos de chuva nos últimos anos em todo o Brasil, segundo José Marengo, climatologista, meteorologista e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
“Principalmente nas regiões Sul e Sudeste”, disse ele em entrevista à reportagem. "Esses extremos de chuva são os que geram mais desastres naturais, causando mortes e outros danos, e estão diretamente ligados ao aquecimento global.”
Uma pesquisa publicada no International Journal of Climatology em 2016 já indicava que as mudanças climáticas estão alterando o padrão de chuvas no Brasil, particularmente no Sudeste, apontando um aumento médio tanto no volume de água quanto na média de dias em que chove no estado de São Paulo.
Colapso climático no Brasil: mais secas e enchentes
Há também o problema da falta de chuvas. Dados do Cemaden indicam que quase 80% dos municípios brasileiros enfrentavam algum grau de estiagem em setembro de 2021, último mês da estação seca na maior parte do país.
Pela duração e intensidade, especialistas a classificaram como a pior seca desde que o fenômeno começou a ser medido no país, em 1910.
Neste ano, a região Sul registra a maior estiagem dos últimos 70 anos, de acordo com monitoramento da Agência Nacional de Águas. No Rio Grande do Sul, mais de 400 municípios decretaram estado de emergência devido à seca, segundo a Defesa Civil do estado.
Por outro lado, em junho do ano passado, o rio Negro atingiu seu maior nível no porto de Manaus, no Amazonas, desde o início das medições, há 119 anos, atingindo uma cota de inundação severa acima dos 30 metros, segundo alertou o Serviço Geológico do Brasil.
De acordo com a Defesa Civil do Amazonas, 450 mil pessoas foram afetadas pelas cheias, o equivalente a 10% da população do estado.
Geadas: outra consequência do aquecimento global
Também em 2021, a tempestade subtropical Raoni, associada a um severo vórtice polar e a um ciclone extratropical, levaram neve à região sul do Brasil e geada em áreas do Centro-Oeste e Sudeste, além de queda de temperatura em quase todos os estados brasileiros no mês de julho. O raro fenômeno prolongado não era registrado desde 2000 no Sul.
A previsão é de que eventos como esses tendem a piorar. Segundo Marengo, as mudanças climáticas ocasionadas pelo aquecimento global, ao aumentar a temperatura média da atmosfera, alteram o comportamento do clima e propiciam a ocorrência de eventos climáticos cada vez mais intensos.
Uma atmosfera cada vez mais quente
O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, divulgado em agosto de 2021, mostra que a temperatura do planeta já aumentou 1,09ºC em comparação aos níveis pré-industriais.
Depois da Revolução Industrial, entre 1850 e 1900, a queima de combustíveis fósseis se intensificou. “A influência humana aqueceu o clima a uma taxa que não tem precedentes pelo menos nos últimos dois mil anos”, alertam os cientistas no documento.
Estudos de paleoclimatologia revelam que a concentração de CO2 presente na atmosfera em 2019 era superior a de qualquer período dos últimos dois milhões de anos.
A quantidade de outros gases que contribuem para o efeito estufa, como metano e óxido nitroso, é maior hoje do que nos últimos 800 mil anos. No ritmo atual, a expectativa é que a temperatura média do planeta cresça em 1,5ºC – ou até exceda esse limite – nas próximas duas décadas.
Fonte: www.nationalgeographicbrasil.com